Teoria da Mudança (ToC)
Os primeiros passos para o futuro Plano de Ação para a Conservação dos Polinizadores em Portugal
CONTEXTO
Portugal reconhece a polinização como um serviço dos ecossistemas vital para a natureza, a agricultura e o bem-estar humano, tal como afirmado pelos partidos políticos na Assembleia da República e patente na Estratégia Nacional para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade 2030. Adicionalmente, o território nacional representa uma região importante para a biodiversidade pela riqueza de polinizadores selvagens e de plantas polinizadas por insetos que alberga.
No entanto, o conhecimento sobre os insetos polinizadores e polinização no nosso território é escasso, e Portugal ainda carece de uma iniciativa nacional focada nos polinizadores.
PRINCIPAIS PRESSÕES
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Perda de áreas naturais
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Homogeneização da paisagem
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Intensificação agrícola e florestal
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Práticas de gestão inapropriadas
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Uso indevido de pesticidas
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Aumento dos fogos rurais
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Invasões biológicas
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Uso extensivo de polinizadores geridos
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Alterações climáticas
AÇÕES
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Aumento da investigação sobre os polinizadores e a polinização
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Livro vermelho dos invertebrados
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Melhoria das coleções e compilação de espécies
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Monitorização através de ciência cidadã
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Incremento na disseminação
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Aumento das ações por entidades administrativas locais
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Criação de redes colaborativas
PAISAGEM
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91% propriedade privada
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8% áreas protegidas e 22% áreas classificadas
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39% floresta, 26% área agrícola e 12% matos
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7% pastagens e 8% sistemas agroflorestais
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Aumento contínuo de áreas com espécies invasoras
*Dados obtidos da Carta de Ocupação dos Solos de 2018 para Portugal continental.
POLINIZAÇÃO
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Estima-se que 78% das plantas silvestres dependem de polinizadores
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57% de culturas agrícolas são polinizadas por insetos
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25% da receita na agricultura depende dos polinizadores
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Importantes culturas agrícolas em Portugal dependem dos polinizadores
POLINIZADORES
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Espécies em Portugal continental: >740 abelhas, 133 borboletas diurnas e >200 moscas-das-flores
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Falta de listagens completas de espécies
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Açores e Madeira: 24 espécies endémicas
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Desconhecemos as tendências populacionais
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Falta de monitorização
Ilustração: Margarida Moreira
O que é a Teoria da Mudança?
A Teoria da Mudança é uma metodologia participativa, dinamizada em vários workshops, que indica o caminho a seguir para atingir ou produzir um determinado resultado (ou mudança), através da partilha e discussão de ideias entre os participantes envolvidos.
Isto é alcançado através da construção de um diagrama que estabelece relações causa-efeito entre ações específicas e resultados desejados, e como estes resultados contribuem para o impacto desejado, e.g. a conservação dos polinizadores.
Qual é o objetivo?
As oficinas da Teoria da Mudança, promovidos pela Aliança Promote Pollinators, têm como objetivo auxiliar o desenvolvimento de estratégias nacionais para a conservação dos polinizadores.
Estas oficinas são uma oportunidade para países que ainda carecem de uma iniciativa governamental concertada, como Portugal, e permitem estabelecer as bases de um futuro plano de ação para os polinizadores.
Quem esteve envolvido?
Este projeto incluiu 24 participantes portugueses e 2 consultores internacionais, em representação de 23 organizações diferentes.
O processo envolveu um conjunto de reuniões participativas realizadas online entre abril de 2022 e julho de 2023. As sessões compreenderam 3 oficinas com os consultores da Aliança Promote Pollinators e do Naturalis Biodiversity Center e 20 reuniões de trabalho da equipa portuguesa dedicadas ao desenvolvimento conceptual do diagrama e à construção da narrativa.
Sílvia Castro
Universidade de Coimbra
Coordenadora
João Loureiro
Universidade de Coimbra
Coordenador
Marten Schoonman
Naturalis
Consultor
Martijn Thijssen
Promote Pollinators
Consultor
Adriana Galveias
Instituto Politécnico de Setúbal
Anabela Nave
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária
Andreia Penado
Ciência Viva
Bárbara Oliveira
Direção Geral da Alimentação e Veterinária
Carla Rego
Sociedade Portuguesa de Entomologia
Cláudia Fernandes
Universidade do Porto
Elisabete Figueiredo
Instituto Superior de Agronomia
Eva Monteiro
Helena Ceia
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
Helena Freitas
IPBES & Universidade de Coimbra
Inês Santos
Syngenta Portugal
Joana Godinho
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária
João Nunes
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
Luís Guilherme Sousa
Câmara Municipal da Lousada
Maria Luís Fino
Confederação de Agricultores de Portugal
Mário Boieiro
Universidade dos Açores
Mário Carmo
Business in Nature
Ofélia Anjos
Instituto Politécnico de Castelo Branco
Paula Nunes da Silva
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Sofia Ferreira
FSC Portugal
Sónia Ferreira
Associação BIOPOLIS - CIBIO
Sandra Antunes
Natural Business Intelligence
Declaração de impacto
No início do processo, a equipa co-construiu a seguinte declaração de impacto como uma ambição comum para os polinizadores e a polinização em Portugal:
Por um mundo onde os polinizadores e os benefícios que estes providenciam sejam abundantes em todas as paisagens.
Esta declaração de impacto foi o ponto de partida para a construção do diagrama da Teoria da Mudança para os Polinizadores em Portugal, interligando os resultados pretendidos com as ações necessárias para se atingir este grande objetivo comum.
Resultados obtidos
Durante o processo, foram identificados quatro temas principais em torno dos polinizadores, cada um com a sua narrativa de causa-efeito, mas todos intrinsecamente ligados:
Sensibilizar a opinião política para a importância dos polinizadores e para a necessidade de desenvolver uma estratégia e legislação para a conservação dos polinizadores e dos seus habitats, disponibilizando fundos adequados.
No total, foram identificadas 92 ações, compostas por 54 atividades e 38 resultados, que convergem para o grande objetivo definido na declaração de impacto.
O diagrama completo e a relação causa-efeito de todas as ações podem ser consultados na imagem abaixo.
O processo e os seus resultados foram apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade COP15, durante o evento paralelo organizado pela Aliança “Promote Pollinators” focado na conservação dos polinizadores.
Quais são as principais propostas?
Comentários finais
Este exercício reflete o conhecimento, expectativas e realidade deste grupo num determinado momento, e pode (e deve) ser melhorado e adaptado a novas circunstâncias. Assim, este diagrama é dinâmico e o objetivo é melhorá-lo continuamente com a ajuda de todos. A próxima atualização será desenvolvida até o final de 2025 no âmbito do projeto PolinizAÇÃO.
Este processo desencadeou o projeto PolinizAÇÃO (2023-2025), recentemente financiado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática, que tem como objetivo principal desenvolver um Plano de Ação legalmente vinculativo e financiado de forma contínua para a Conservação dos Polinizadores em Portugal.
Por último, este processo espera inspirar diferentes atores a desenvolver iniciativas, e dessa forma desencadear múltiplas ações para a conservação dos polinizadores.